As Lágrimas dos Políticos

Poema Africano: As Lágrimas dos Políticos

Choram…

Sim, choram os que sempre riram

do pranto anónimo das ruas.

Choram com lenços de seda,

enquanto o povo seca o rosto com poeira.


As lágrimas descem limpas,

mas lavam apenas o palco,

não o pecado.

São lágrimas treinadas 

sabem o momento certo de cair,

sabem onde a câmara está.


Dizem ser humanas,

mas há nelas o cálculo da conveniência.

Choram quando o povo desperta,

quando o aplauso se esvai,

quando a máscara pesa.


E o povo?

Esse chora desde o nascer da bandeira,

chora com fome,

chora em filas,

chora sem palco, sem eco, sem perdão.


As lágrimas do político são de água e encenação,

as do povo — de sal e desespero.

A diferença está no preço do choro:

umas rendem manchetes,

outras, apenas silêncio.


Mas um dia,

quando a rua se tornar tribuna

e a multidão se fizer voz,

os que fingiam sentir

vão sentir de verdade.


E talvez aí percebam

que não há lenço que seque

as lágrimas de um povo traído.


Poema de: Loforte Leite